Mensagem do dia

23 junho 2016

MAIS UMA VEZ AVÓ



Nesse belíssimo texto de Rachel de Queiroz, A ARTE DE SER AVÓ,  (que me perdoe à ousadia) sublinhei frases ou palavras que me chamaram mais á atenção, talvez por não conseguir acompanhar a linha do seu raciocínio.
 Vamos la...

Netos é como herança: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É como dizem os ingleses, um ato de Deus.
Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade, E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...

Quarenta anos, quarenta e cinco... (já tenho 65) você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.

Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências.
A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade.

Bracinhos de criança no seu pescoço.
Choro de criança.
O tumulto da presença infantil ao seu redor.

Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.

E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha.
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é "devolvido".
E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de amá-lo com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice.  São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avó, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto...

No entanto - no entanto! - nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do garoto. Não importa que ela, hipocritamente, ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo.
Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.

Já a avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca".
Deixa lambuzar de pirulitos.
Não tem a menor pretensão pedagógica.
É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia.
Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura.
Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina.
Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer roquetes, tomar café - café! -, mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser - e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com o lápis dizendo que foi sem querer - e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó, e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna...

Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma.
Porém, esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol.
E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!

E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.

E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade...

Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho - involuntariamente! - bateu com a bola nele.
Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó?
Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague...
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Pois bem: eu digo sempre que há tempo para tudo.....e cabe a nós o dever de apreciar e viver cada etapa com muita serenidade e sabedoria, para desfrutar de cada momento, os formadores da história de nossa vida.

Os filhos nos chegam como bênçãos de deus e consequentemente avós seremos, independente de sermos merecedoras ou não.
Chegam transformando vidas...modificado espaços...mas, eles crescem e da mesma forma se vão...deixando para traz o ninho vazio, afinal eles não são nossos, são do mundo... Vão desbravar novos caminhos em busca de conquistas e realizações de acordo com a sua vontade e personalidade.
Vez em quando retorna ao ninho, seu lugar de refugio abençoado, o “colo” da mãe, agora também do seu filho,para abastecer-se de 
novas energias retornando a luta diária com novos compromissos nesta outra fase da vida. Mais uma....

Ser avó é tudo de bom e não tem preço, mas nem por isso devemos deixar de trilhar caminhos que nos leva a viver novos amores, o despertar de novos interesse de acordo com a atual idade, afinal é outra etapa de vida, cheia de grandes expectativas e recomeço.

Não gosto muito dessa comparação de triangulo amoroso como a misturar ou mesmo diferençar, ou diminuir um sentimento que nasce no coração de uma mulher que antes de ser avó foi mãe tanto quanto a mulher do seu filho é agora.
O respeito mútuo prevalece.
Cada coisa a seu tempo...cada coisa no seu lugar.

Há o tempo de ser mãe... e tempo de ser avó.
Deveres iguais, direitos diferentes. 
Por isso “vó” é mãe com açúcar.
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3 comentários:

  1. Esse texto é um dos mais lindos sobre avós e netos.Adoro e nos toca fundo,não? bjs, chica, tuuuuuuuudo de bom!

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  2. Eliene, minha querida e doce amiga...

    Espero k voce esteja bem, mto feliz e com coração de mel, ainda mais do k já tem.

    O texto de Rachel Queiroz está uma ternurinha, ah, mas o de voce, é uma verdadeira iguaria de amor e doçura. Aqui, em Portugal, se diz que avó é ser mãe duas vezes, mas a vossa expressão pra definir o que é ser avó está mais simples, mais bem definida, mais carinhosa e naturalmente muitoooooooooooooooooooo mais doce.

    Parabéns pelo amor que tem aos seus netos. Te aprecio muito, querida amiga...

    Beijos e um excelente fim de semana, preferencialmente com os seus docinhos por perto ♥.

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  3. Eliene que doçura em palavras!
    Eu amo ser vovó e como diz a Céu,ser avó é se mãe duas vezes.
    Parabéns por ser uma vovó tão doce.
    Bjs e obrigada pela visita.
    Carmen Lúcia.

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Para você tudo de bom e um carinho sempre novo em agradecimento pela sua presença no fim do arco iris. Abraços.

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