Mensagem do dia

20 agosto 2017

A casa que a fome mora



Eu de tanto ouvir falar
Dos danos que a fome faz,
Um dia eu saí atrás
Da casa que ela mora.
Passei mais de uma hora
Rodando numa favela
Por gueto, beco e viela,
Mas voltei desanimado,
Aborrecido e cansado.
Sem ter visto o rosto dela.

Vi a cara da miséria
Zombando da humildade,
Vi a mão da caridade
Num gesto de um mendigo
Que dividiu o abrigo,
A cama e o travesseiro,
Com um velho companheiro
Que estava desempregado,
Vi da fome o resultado,
Mas dela nem o roteiro.

Vi o orgulho ferido
Nos braços da ilusão
Vi pedaços de perdão
Pelos iníquos quebrados,
Vi sonhos despedaçados
Partidos antes da hora,
Vi o amor indo embora,
Vi o tridente da dor,
Mas nem de longe via a cor
Da casa que a fome mora.

Vi num barraco de lona
Um fio de esperança,
Nos olhos de uma criança,
De um pai abandonado,
Primo carnal do pecado,
Irmão dos raios da lua,
Com as costas seminuas
Tatuadas de caliça,
Pedindo um pão de justiça
Do outro lado da rua.

Vi a gula pendurada
No peito da precisão,
Vi a preguiça no chão
Sem ter força de vontade,
Vi o caldo da verdade
Fervendo numa panela
Dizendo: aqui ninguém come!
Ouvi os gritos da fome,
Mas não vi a boca dela.

Passei a noite acordado
Sem saber o que fazer,
Louco, louco pra saber
Onde a fome residia
E por que naquele dia
Ela não foi na favela
E qual o segredo dela,
Quando queria pisava,
Amolecia e Matava
E ninguém matava ela?

No outro dia eu saio
De novo a procura dela,
Mas não naquela favela,
Fui procurar num sobrado
Que tinha do outro lado
Onde morava um sultão.
Quando eu pulei o portão
Eu vi a fome deitada
Em uma rede estirada
No alpendre da mansão.

Eu pensava que a fome
Fosse magricela e feia,
Mas era uma sereia
De corpo espetacular
E quem iria culpar
Aquela linda princesa
De tirar o pão da mesa
Dos subúrbios da cidade
Ou pisar sem piedade
Numa criança indefesa?

Engoli três vezes nada
E perguntei o seu nome
Respondeu-me: sou a fome
Que assola a humanidade,
Ataco vila e cidade,
Deixo o campo moribundo,
Eu não descanso um segundo
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Dos governantes do mundo.

Me alimento das obras
Que são superfaturadas,
Das verbas que são guiadas
Pro bolsos dos marajás
E me escondo por trás
Da fumaça do canhão,
Dos supérfluos da mansão,
Da soma dos desperdícios,
Da queima dos artifícios
Que cega a população

Tenho pavor da justiça
E medo da igualdade,
Me banho na vaidade
Da modelo desnutrida
Da renda mal dividida
Na mão do cheque sem fundo,
Sou pesadelo profundo
Do sonho do bóia fria
E almoço todo dia
Nos cinco estrelas do mundo.

Se vocês continuarem
Me caçando nas favelas,
Nos lamaçais das vielas,
Nunca vão me encontar,
Eu vou continuar
Usando o terno Xadrez,
Metendo a bola da vez,
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Da Burrice de vocês.
 Antônio Francisco de Mossoró”.

3 comentários:

  1. Oi, querida!

    Não conhecia esse fantástico poema, nem seu autor.

    Pois, a fome não está onde se pensa e só nos pretende zangar e matar. Mas, pode ser, que um dia desses alguém te mate, de vez, senhora fome!

    Gostei mto do poema e do teu post. Qdo quiser e tiver tempo, apareça, só pra dizer um aló.

    Eu sei k você não corre atrás de comentários, e que posta pke gosta de partilhar, mas dar sem receber, nem todos sabem entender, portanto, faça um pequeno esforço e vá aparecendo, vez ou outra, nos blogs que a comentam. O que lhe parece, minha amiga?

    Um big beijo e boa semana.

    ResponderExcluir
  2. Oi, querida!

    Passando pra saber de você. Há muito tempo, que não posta. Está tudo bem com você? Espero bem k sim.
    Qdo te for possível, apareça. Tá?

    Beijinhos e boa semana.

    ResponderExcluir
  3. Olá, querida Eliene!

    Fiquei mto feliz com sua presença em meu blog. Mto agradeço a você. Meu carinho por você é mto real e especial, acredite!

    Estive tentando encontrar o seu outro blog, mas não consegui, pke phenix, me aparece sempre phoenix e coisas do coração há imensos blogs com esse título.
    Me mande, por favor, e qdo te for possível, o link direitinho desse seu blog. Tá?

    Minha querida, toda a gente tem momentos assim. Você que é auxiliar de enfermagem, sabe como agir. Não entre em depressão, pke a vida tem seus altos e baixos e TODO O MUNDO passa por eles.

    Se não sente por agora inspiração, vontade de escrever, deixe isso pra depois, pke o tempo tudo resolve. Se há problemas pessoais, os tente resolver com calma e fé.

    Um grande beijo, um enorme abraço e fique sabendo que desse lado do oceano há alguém pensando em você.

    TUDO DE BOM E DÊ A VOLTA, RAPIDAMENTE!

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Para você tudo de bom e um carinho sempre novo em agradecimento pela sua presença no fim do arco iris. Abraços.

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