Sou da área de saúde e sei a importância dos procedimentos básicos para o bom desenvolvimento de um ato cirúrgico, consequentemente com o seu resultado bem sucedido. Vale a pena ler....
“Quando me levarem para a sala de cirurgia, por favor, não me deixem sozinho e sem qualquer informação sobre o que será feito em seguida”.
Para vocês, o Bloco
Cirúrgico é bastante conhecido, tudo nele lhes é familiar. Afinal vocês passam,
nele, uma grande parte de seu dia. Mas, para mim, mesmo que não seja minha
primeira cirurgia, tudo é novidade, tudo é assustador. Contudo, se alguém conhecido,
especialmente o meu cirurgião ou um dos membros de sua equipe que eu já
conheço, estiver junto de mim, estarei seguro e me será fácil enfrentar tudo o
que vier em seguida. Melhor ainda se esta pessoa puder segurar, carinhosamente,
a minha mão...
Ao
me passarem para a mesa de cirurgia, por favor me cubram com algo para me
aquecer.
A sala de cirurgia é sempre muito fria, mesmo no verão. Mais ainda
quando o ar condicionado está funcionando. Como vocês estão completamente
vestidos, muitos já com o capote e as luvas cirúrgicas, certamente não imaginam
o frio que se sente com uma simples camisola. Especialmente quando, além de
tudo, se é aquele que será operado!
Se
possível, evitem arrumar os equipamentos e instrumentos cirúrgicos, enquanto eu
estiver acordado na mesa de cirurgia. É extremamente estressante ver todo
aquele instrumental e aparelhos que deverão ser usados em mim. Sei que tudo
será em meu benefício, mas, nem por isto os ruídos de instrumentos sendo
colocados em uma mesa deixam de ser causa de muito temor e angústia para mim.
Façam-na, pois, antes da minha chegada, evitando-me mais este sofrimento.
Não
comentem defeitos de equipamentos, nem reclamem da falta de algum medicamento
na sala de cirurgia, depois que eu estiver lá dentro ou onde possa escutar tais
reclamações. É terrível saber que determinado material está faltando ou que se
apresenta defeituoso, tendo-se consciência de que ele deverá ou deveria ser
usado em meu tratamento. Certamente minha angústia diante de tal fato irá
contribuir, sensivelmente, para complicações posteriores.
Quando
forem me preparar, respeitem o meu pudor.
É extremamente desagradável ver-se
despido diante de tantas pessoas, mesmo sabendo que são profissionais
acostumados a estas situações. Mas, por favor, lembrem-se de que eu não estou
acostumado a me despir diante de pessoas estranhas!
Respeite
também, eu lhes peço, o meu medo.
Mesmo os maiores heróis, diante de uma
situação de cirurgia iminente em si própria, certamente irão tremer. Afinal,
tudo é estranho, tudo é ameaçador. Se eu pedir para esperarem um pouco, não
percam a paciência comigo. Afinal, a profissão de vocês é esta e eu espero que
a exerçam com muito amor. Se me explicarem, em linguagem compreensível para um
leigo, o que vai ser feito, certamente vou entender - eu não sou “burro!” - e
então poderei cooperar com todos. Mas, lembrem-se: cada pessoa tem o seu
próprio tempo para se acalmar. Respeitem, pois, o meu tempo!
Se
eu não estiver cooperando como vocês gostariam, desculpem-me e ajudem-me a tranqüilizar
para melhor ajudá-los.
Não me tratem com impaciência nem me agridam com
reprimendas ríspidas. Afinal, eu nada sei de cirurgia e se me movimento ou
coloco a mão onde não devia, não o faço por mal. São atos instintivos de defesa
que realizo por desconhecer as regras e as necessidades técnicas, mas também
pelo medo de algo que me ameaça. Vocês já pensaram que podem ser vocês mesmos,
a ameaça de que tanto tenho medo? Tratando-me com carinho e paciência,
certamente irão me conquistar e eu irei ajudá-los muito mais do que pensam!
Se
a anestesia utilizada for a local ou a regional, certamente eu estarei acordado
e muito atento a tudo que se passar em redor de mim.
Mesmo com alguma sedação,
o meu medo me fará estar extremamente ligado a tudo o que eu imaginar ou me
parecer ligado à minha pessoa. Portanto, evitem conversas que podem demonstrar
desinteresse pelo meu tratamento. Vocês podem estar tão descontraídos que
falarão de futebol, programas de televisão ou de política, com a maior
naturalidade. Mas isto irá me parecer um grande desinteresse pelo que estão me
fazendo. E eu irei sofrer muito mais do que já estarei sofrendo. Se surgirem
complicações no pós-operatório, certamente irei atribuir este fato ao
desinteresse da equipe durante a cirurgia.
Se
a anestesia for geral, durante a indução da anestesia, por favor, façam todo o
silêncio possível.
Naquele momento de passagem da consciência para a
inconsciência, tudo o que acontecer na sala será de extrema importância para
mim. Poderei dormir com segurança e tranqüilidade ou então inteiramente
transtornado por tudo o que ouvi, sem compreender o que acontecia.
E depois de
anestesiado, lembrem-se de que continuo merecendo todo o respeito como quando
acordado.
Zombar de mim, do meu modo de ser ou de falar, do meu corpo, será uma
enorme falta de ética e de caráter, coisa que jamais poderia aceitar em um
grupo para o qual estou entregando a minha própria vida. É bom lembrá-los de
que por razões ainda não bem explicadas, muitas pessoas são capazes de ver e
ouvir, mesmo estando bem anestesiadas, lembrando-se de tudo o que aconteceu,
quando voltam da anestesia...
Finalmente,
quero lhes pedir que respeitem minha condição de “ser humano”,
independentemente de ser um paciente particular rico, ou um anônimo indigente,
recolhido pelas ruas. Afinal, sou alguém exatamente igual a vocês, filho do
mesmo Pai, criatura do mesmo Criador. E só por isto, mereço o mesmo respeito
que vocês dedicam às suas mães, a seus irmãos e a vocês mesmos. Ainda que não
acreditam no Deus Criador de tudo e de todos, façam por mim, o mesmo que
gostariam que lhes fizessem! Muito obrigado!”
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Para você tudo de bom e um carinho sempre novo em agradecimento pela sua presença no fim do arco iris. Abraços.