Lá
eu comi, rezei, amei.
Provei
pititinga, umbu, mangaba, baião de dois, carne de fumeiro, farinha em todas as
refeições.
Aprendi
que punhetinha não é sem-vergonhice masculina, é o doce com canela mais bonito
dos tabuleiros.
Manchei
meu vestido de dendê.
Vesti
branco para Oxalá nas sextas.
Vesti
sol.
Vi
o Ilê Ayê subindo a Ladeira do Curuzu, pensando que ele é mesmo O Mais Belo dos
Belos. Recebi Nana como meu novo nome.
Calcei
percatinhas na Ladeira do Couro.
Escrevi
sete cartas de saudade e algumas dezenas de bilhetes.
Segui
sambando, já que quem tem fé vai a pé, os oito quilômetros da Conceição da
Praia até a Colina Sagrada, pedindo bênçãos ao Senhor do Bonfim nas escadarias
banhadas com água de cheiro.
Descobri
que “eu te amo você” é a melhor frase que uma boca pode pronunciar.
Fui
ao Vila, velho! para aplaudir o teatro antropofágico.
Avistei
caravelas sentada no topo do Morro do Cristo, mas era miragem.
Estudei
o inestudável. Saí da fossa xingando em nagô.
Levei
mudas de ipê e sibipiruna para plantar no Passeio Público. Pensei que esta
cidade, feito a vida da gente, é caleidoscópica.
Fui
pedida em namoro com o colar azul dos filhos de Gandhy. Aceitei.
Dancei
forró em um quarto vazio.
Entendi
que Magalhães é um sobrenome com passaporte ao céu e ao inferno.
Levei
um puta dum calote.
Espiei
a filmagem de uma cena de Ó Paí, Ó.
Soube
que chegaria a hora de voltar pra Belo Horizonte.
Soube
que meu namorado se mudaria pra Brasília.
Pesquisei
a distância entre Belo Horizonte e Brasília.
Aprendi
a lidar com mapas.
Tomei
sorvete de coco queimado, mel e gengibre, nata goiaba, martinique.
Fiquei
mordida de inveja todas as vezes em que ouvi Toda Menina Baiana e prometi a mim
mesma que hei de ser mãe de uma.
Aprendi
a gostar de pôr do sol.
Descobri
que em 1668 um galeão naufragou perto do Rio Vermelho e que encontraram um
pingente de azeviche, decerto de um marinheiro, com Luysa gravado dentro de um
coração.
Me
senti como Luysa, esperando um marinheiro no cais.
Chorei
por Luysa e pelo marinheiro, quase 350 anos depois.
Compus
uma canção sobre Luysa e o marinheiro.
Assisti
à missa das dez do domingo no Mosteiro de São Bento, muito tentada a pecar ao
som do canto gregoriano dos monges.
Vibrei
música na Concha Acústica.
Conheci
a santa palavra de Edson Gomes e também chamei a liberdade de Lili, dona Lili.
Conheci
gente de derreter o peito.
Entendi
que sou jovem, morena, cintura fina e quadris largos, e que este é o maior
milagre temporário que existe.
Brinquei
o carnaval do Pelô nas ruas de pedras de dor e alegria. Espirrei durante um dia
inteiro, alérgica e alegre, nos sebos e antiquários da rua Rui Barbosa.
Gritei
“bora Bahêa” esperando alguém completar com “minha porra”. Joguei flores nas
águas na aurora do 2 de fevereiro para saudar Iemanjá, Inaê, Janaína,
Dandalunda, Princesa de Aiocá, invocando todos os seus nomes.
Ouvi
blues no D’Veneta.
Olhei
nos olhos da morte depois de beber Príncipe Maluco.
Temi
o mar. Desejei o mar.
Misturei
cheiro de sal ao meu cheiro de minério de ferro.
Mas,
sobretudo: houve (e há) um baiano comigo.
“Porque
ainda que eu cantasse como Maria Bethânia e guerreasse como Maria Quitéria,
ainda que eu cozinhasse como Dadá e pintasse como Carybé, ainda que eu falasse
a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.”
Quer saber onde é lá?
Só pode ser em Salvador/ Bahia.
(MARIANA
CARDOSO DE CARVALHO)
No meu arco-íris encontrei você e adorei seu folhetim com tantas preciosidades da sua terra! Beijos!
ResponderExcluirNas minhas andanças encontrei você Lya com sua prosa boa da bela Bahia que dá gosto ler
ResponderExcluirBeijinhos minha querida